domingo, 28 de julho de 2013

A ORGANIZAÇÃO PRÁTICA - LEITURA E LEITORES

Célia  Nascimento


Heráclito nos ensina que “ninguém desce duas vezes o mesmo rio, pois suas águas mudam constantemente”. O texto também muda a cada leitura porque o leitor coloca nele sua vivência, sua sensibilidade, sua visão particular do mundo e sua atitude naquele momento.
Trabalhar com a leitura na escola é querer descer o rio centenas de vezes. Mais que gostar de ler, é preciso ter extrema paciência com os textos e com as descidas, que não se esgotam jamais.
Possuir uma biblioteca, ou uma sala especial para a leitura, é uma importante conquista da escola para o desenvolvimento das atividades pedagógicas e para a formação de leitores. Ali,  todo o espaço, todo o tempo e toda a energia se destinam à prática de ler.
Os alunos precisam reconhecer na biblioteca (ou na sala de leitura) um local para o pleno exercício da leitura, para o acesso à informação e para tudo aquilo que pode estar na alquimia portador-texto-leitura. Com tal reconhecimento, esse ambiente já terá cumprido um importante papel: seduzir os alunos para seus encantos.
Exista ou não um ambiente privilegiado, o mais importante é mesmo o trabalho de leitura que se faz. A formação de leitores não depende da existência de um local determinado.
São infinitas as possibilidades de transformar a escola toda em espaço de leitura, principalmente a sala de aula – lugar eleito pela cultura escolar como privilegiado para os principais aprendizados.
É fundamental a existência, na escola, de um acervo organizado com carinho e com critério a partir das necessidades locais, abrangendo as distintas áreas de conhecimento, a diversidade de textos e de portadores: livros, revistas, gibis, jornais, folhetos e outros materiais.
Sempre que possível, convém complementar o acervo impresso com recursos da tecnologia de comunicação e informação: computador, aparelho de tevê, vídeo, som e outros.
Com o objetivo de formar usuários competentes da escrita e da informação, esses materiais e recursos precisam ficar sempre ao dispor dos alunos para que possam ser amplamente utilizados por eles.
O ideal é que se estabeleça um projeto compartilhado de leitura. Definindo coletivamente  as metas que pretendem alcançar em relação à prática de leitura, os educadores facilitam o próprio trabalho. Se não houver possibilidade de um educador assumir a coordenação geral, é  possível dividir as tarefas, partilhando entre vários professores a responsabilidade pelo projeto e  por seus desdobramentos.
A escrita e a leitura são instrumentos básicos em todas as áreas: os conteúdos de história, geografia ou ciências também são trabalhados por meio de textos. A própria matemática, muitas vezes considerada a vilã da escola, encanta quando a lemos através da obra  de Malba Tahan!
A leitura de materiais interessantes que tratam de conteúdos das diferentes áreas, habitualmente chamada complementar, na verdade é essencial. Por todas essas razões, a leitura  pode ter uma função aglutinadora, potencializando a construção de um projeto que envolve todos  os educadores. 
Mas nem só de leitura vivem os leitores... Não se pode esquecer da importância que tem  o contar. Toda a literatura vem da maravilhosa necessidade do homem de contar, contar e recontar histórias. Contar uma história é representar e, de certa forma, produzir um novo texto. É  um trabalho de co-autoria entre contador e autor.

Quando há uma biblioteca na escola
O trabalho de leitura na biblioteca pode ser organizado de diferentes maneiras: por faixa etária, por projetos de série, por necessidades específicas ou por outros critérios.
Uma excelente ideia consiste em dedicar um período a certos temas ou a certas necessidades: semana de contos de fadas, de folclore, de mitologia, de lendas, de contos de outros países ou de crônicas. Pode-se preparar uma ambientação adequada para cada assunto, aguçando a curiosidade dos alunos e mobilizando suas emoções.
Por exemplo, em uma eventual Semana de Contos Africanos, vale a pena conversar, mostrar imagens e ouvir músicas relacionadas com a África, falando da história e dos costumes do continente. Assuntos como contos de fada, folclore, mitologia, romances de cavalaria, histórias de humor ou grandes clássicos criam boas ocasiões para ambientações fantasiosas.
O empréstimo de livros, por sua vez, é uma prática que amplia o espaço da biblioteca até a casa  dos alunos, fazendo da leitura uma prática cotidiana. A possibilidade de levar livros para ler em casa contribui para o desenvolvimento de atitudes e procedimentos próprios de leitores reais: 
responsabilidade, cuidado, desenvolvimento de critérios de seleção para optar pela obra a tomar emprestada.
É sempre bom que o conteúdo do livro lido em casa seja socializado com os colegas de classe:  em rodas de leitura, por exemplo, nas quais os alunos contam o que leram, o que sentiram, o que aprenderam e o que mais gostaram em sua leitura.


E se não houver (ainda) uma biblioteca?
Tudo que se pode fazer em uma biblioteca, além do principal, que é a atividade de leitura, pode também ser feito na sala de aula: ambientações, “semanas” ou sistemas de empréstimo.
Inúmeras experiências extremamente bem-sucedidas em escolas que não dispõem de espaço para a biblioteca podem servir como exemplo. A proposta relatada a seguir já foi validada pelo sucesso e pela eficácia em várias escolas, como nas escolas estaduais da cidade paulista de Mogi das Cruzes.
Trata-se do projeto de um acervo circulante, uma prática simples, de baixo custo e de fácil implementação.
O primeiro passo consiste em fazer a coleta e/ou a seleção de materiais de leitura, tendo como  critérios a qualidade e a diversidade. Os livros são colocados em caixas, com uma relação de todos os títulos.
Em seguida, os professores montam, em conjunto, um horário que garanta 20 ou 30 minutos de  leitura diária em cada classe e um esquema de circulação dos livros entre as classes. Todos convencidos de que esse será um tempo ganho, e não perdido, é só começar.
O horário previsto deve ser rigorosamente respeitado para não atrapalhar a rotina do próximo professor a receber o acervo. Terminado o tempo, os alunos param de ler no ponto em queestiverem - no dia seguinte, os livros virão novamente e eles poderão continuar a ler. Esse tipo de acervo não comporta o empréstimo de livros para os estudantes lerem em casa.
Enquanto os alunos estão lendo, o professor deve fazer a mesma coisa: nada de aproveitar o tempo para outras atividades (e nada de dispensar o acervo porque hoje temos coisas mais importantes a fazer).
A condição principal para o sucesso dessa proposta é a disciplina para realizá-la diariamente.
Assim se garante a prática permanente de leitura na classe – alem de muitas outras atividades que  se pode inventar.
Mesmo que haja uma biblioteca na escola, outra proposta importantíssima consiste em manter um acervo de materiais de leitura na própria sala de aula – a chamada biblioteca de classe.
Isso pode ser feito com doações das famílias, da comunidade e dos amigos. Se houver necessidade, e se for possível, o professor pode pedir para cada aluno comprar/doar um livro para montar esse acervo.
Nesse caso, cada criança precisa trazer um título diferente; em uma classe de 36 alunos, por exemplo, todos poderão ter a oportunidade de ler pelo menos 36 livros, considerando apenas o acervo da classe. Esse acervo precisa ser mantido em um armário, em uma estante ou em caixas, asseguradas as boas condições de armazenamento e conservação.

Para montar uma biblioteca
O espaço
A imagem clássica de biblioteca nos remete a uma sala ampla, muito silenciosa e com ambiente austero. No entanto, esse cenário sofreu profundas modificações, principalmente nas bibliotecas infantis: hoje as salas têm almofadas, tapetes, mesinhas... Até o silêncio é menos rigoroso, dando chance ao zunzunzum.
Todavia, mesmo que tenha perdido a austeridade, a biblioteca permanece intacta naquilo que podemos chamar sacralidade: continua a ser um lugar privilegiado para o mergulho na leitura. O espaço dedicado a ela talvez não tenha todos os atrativos de conforto e beleza desejáveis, mas ela precisa resguardar algumas características importantes:
* Ser arejada e limpa, para o bem-estar dos leitores e a boa conservação do material ali guardado;
* Ter espaço para os alunos sentarem: chão ou cadeiras. Muitas vezes, o chão é a melhor opção, pois sem móveis se ganha maior mobilidade e o nível de ruído pode ser mais baixo;
* Ser agradável: limpa, bem arrumada, organizada, com quadros e pôsteres na parede;
* Dispor de recursos que permitam utilizar o espaço para outras atividades: por exemplo,cortinas pretas para as portas e janelas, permitindo a projeção de filmes;
* Ser distante de locais de muita circulação ou onde ocorram atividades ruidosas: quadra, cantina ou pátio.

A utilização dos materiais
Os alunos precisam se sentir parte integrante do projeto de leilura na escola, usuários competentes de todo o saber documentado e acumulado nos textos que compõem o acervo. O conhecimento é democrático. Quanto mais os materiais forem lidos e utilizados, mais fácil e eficiente será a alquimia portador-texto-leitura.
É interessante garantir pelo menos uma aula semanal de biblioteca para cada classe e nessa ocasião apresentar, sempre que houver, as novidades do acervo. Além dessa aula, os alunos devem poder visitar, pesquisar e realizar empréstimos em horários definidos – horários que  precisam ser bem elásticos.
O espaço da biblioteca é, acima de tudo, um espaço de convivência. É fundamental permitir que  as crianças escolham os livros. Em um primeiro momento, talvez optem por livros com pouco texto. Mas, à medida que forem compartilhando, aprendendo e valorizando o ato de ler, com certeza suas escolhas se tornarão cada vez mais autônomas e pessoais.
O empréstimo de livros aumenta as chances e as oportunidades de ampliação do repertório de leitura e do nível de conhecimento do aluno. Uma boa ideia consiste em convidar também os pais de alunos para frequentar a biblioteca da escola. Quantos já tiveram essa oportunidade?
Quando as crianças puderem levar os materiais de leitura para casa, para estudar ou apenas para ler, é fundamental valorizar esse empréstimo, lembrando sempre que a leitura pode ser compartilhada por toda a família. 
Uma parte do acervo da escola pode ser cedida para a organização das bibliotecas de classe.
Também na classe os alunos precisam conviver com materiais de pesquisa e leitura – além disso, a sala de aula é um espaço privilegiado de socialização de preferências, impressões e opiniões a respeito dos textos lidos. E todos sabemos que um livro bem contado gera muitos candidatos a sua leitura.

O acervo
Atualmente, o mercado oferece uma infinidade de produtos que podem representar valiosos recursos de consulta: mapas geográficos, históricos e científicos; uma quantidade imensa de livros paradidáticos muito bem escritos e ilustrados; vídeos e DVDs históricos, científicos e de arte, muitos deles vendidos em bancas de jornal (alguns são muito bons, mas outros, de baixa qualidade. Antes de decidir comprar, procure obter informações).
O acervo não deve prescindir de revistas (principalmente as de ciências, as geográficas e as de educação), jornais, histórias em quadrinhos, boas fitas de música – que podem ser gravadas com  a ajuda de alunos – e, evidentemente, de um bom dicionário e uma boa enciclopédia.
A organização do acervo precisa ser feita de forma funcional, atendendo às necessidades da escola. Mais importante do que adotar normas internacionais de catalogação e distribuição do material é uma organização racional e harmônica, que deixe tudo à mão para o aluno localizar com facilidade e utilizar.

Para compor ou ampliar o acervo
A seguir, algumas sugestões para criar e organizar o acervo da escola.
* Solicitar catálogos às editoras e livrarias. Eles permitem conhecer os títulos disponíveis e com frequência contêm informações e dicas a respeito dos livros.
* Quando possível, solicitar a visita de representantes de editoras (ou inserir a escola em seus cadastros). É comum as editoras doarem livros para análise e conhecimento. Além disso, elas mantêm a escola informada acerca dos lançamentos.
* Acompanhar os lançamentos editoriais em jornais, revistas ou outras fontes.
* Solicitar doações a editoras, livrarias, bibliotecas públicas, museus, centros culturais e a instituições ligadas à educação e grandes empresas, que costumam editar livros  comemorativos (Sesc e Senac, por exemplo).
* Sempre que possível, garimpar sebos à procura de raridades – ou mesmo de livros não raros, mas de custo reduzido.
* Acompanhar a programação da tevê para selecionar programas que possam ser gravados.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

BIBLIOTECA COMO AGENTE CULTURAL

Célia Nascimento

Acreditamos que a biblioteca seja um local privilegiado para a discussão e fomentação cultural da escola. Raramente encontramos nas escolas departamentos culturais organizados como tais, e as bibliotecas conseguem suprir essa lacuna de maneira bastante eficaz. Tendo em seu acervo inúmeros materiais e recursos à sua disposição, a biblioteca ou sala de leitura pode tornar-se local de referência para as atividades culturais da escola e ponte para as atividades culturais da cidade.
Seja realizando tarefas simples, como manter um painel de informações dos eventos culturais publicados em jornais e revistas, seja sendo o agente responsável pela realização de eventos na escola, a biblioteca pode responsabilizar-se por auxiliar a levar cultura e entretenimento aos alunos, pais e educadores. Falamos em auxiliar, pois essa é uma tarefa que  compete a outras instâncias também.
Acreditamos também que atividades culturais sejam imprescindíveis na escola: música, teatro, literatura, cinema fazem parte de um universo que deve ser apresentado aos alunos. Abrir as portas da biblioteca para outras atividades, mostrando um território fértil depossibilidades, enriquece o próprio espaço e fortalece vínculos com a comunidade escolar. 
Pela própria natureza de sua atividade, a biblioteca tem a chance de conhecer todos osprojetos que estão em curso nas salas de aula e atuar fortemente como agente cultural, criando situações de potencialização dos conteúdos.
O rol de atividades que a biblioteca pode fazer é grande e os responsáveis pelas atividades devem buscar seus melhores caminhos. Convidar escritores e ilustradores para o lançamento de livros ou bate-papo com os alunos, promover sessões de cinema, exposições de arte, audição de música, buscar espetáculos de teatro, exposições em museus e outros locais são alguns exemplos. Esses eventos podem estar diretamente relacionados com projetos em sala de aula ou não-aula.
Muitas vezes, acontece de a cidade estar promovendo algum tipo de atividade cultural completamente relacionada com algum projeto. Assim, não se deve perder a oportunidade de fazer uma nova leitura ou complementar informações dos conteúdos estudados auxiliados pela atividade cultural. Em São Paulo, por exemplo, temos museus temáticos que são constantemente visitados por estarem em sintonia com muitos projetos, como o Museu da Imigração, o Museu Paulista, o Museu de Anatomia e o Museu do Folclore, entre outros. Às vezes "o planeta confabula a favor" e acontecem felizes coincidências, como o caso de nossas as séries acabarem de ler o conto A Ilha Desconhecida, de Saramago, e um grupo teatral montar um  espetáculo justamente calcado nesse conto! É preciso ficar de olho no que está acontecendo para não perder oportunidades desse tipo.
Não se pode esquecer do papel fundamental da parceria. Educadores e bibliotecários, ou responsáveis por sala de leitura, podem pensar juntos atividades que venham enriquecer o cotidiano da sala de aula. Evidentemente que eventos que não estejam relacionados com conteúdos são muito bem-vindos, afinal o que se pretende é a inserção dos alunos a um leque  variado de opções que os auxilie a ler melhor o mundo que os cerca.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

ATIVIDADES PARA PERÍODO DE ADAPTAÇÃO


Período de adaptação - "Nos conhecemos pelas mãos de Paulina"

Expectativas a serem alcançadas:

Que as crianças:
* Conheçam a sua sala e familiarizem com os objetos e os espaços da mesma;
* Iniciem a inter-relação com os colegas e professores de sua sala;
* Consigam separar-se progressivamente das mães ou familiares.

Objetivos:
* Oferecer à criança possibilidades de participar de brincadeiras de integração para que consigam gradativamente integrar-se com seus colegas e desenvolver-se junto a eles;
* Favorecer um ambiente facilitador e um clima afetivo que possibilite a criança sentir-se seguro e confiante.

Conteúdos:
 Área sócio-afetiva:
- Reconhecer e relacionar-se afetivamente com os adultos e com as crianças de seu grupo.
- Integração em seu grupo, reconhecendo a pertinência com o mesmo.
- Progressiva aquisição de alguns modelos, normas e atividades próprias do funcionamento grupal.
- Início da autonomia frente as necessidades individuais.

Área cognitiva:
- Expressão das necessidades, desejos, sensações, pedidos, interações através da linguagem verbal, gestual e de movimentos corporais.
- Exploração de materiais e ferramentas úteis para as atividades plásticas.
- Apreciação de contos, poesias, músicas de diferentes gêneros.

Área psicomotora:
- Conquista e prazer diante de um menor grau de dependência.
- Confiança em suas habilidades motoras básicas e aquisição de novas.
- Vivenciar e desfrutar do ar livre.

Estratégias Metodológicas:
- Acompanhar e amparar tanto pais quanto o grupo de crianças.
- Observar condutas grupais e individuais.
- Oferecer espaços para a exploração de brinquedos, jogos e distintos elementos.
- Utilizar recursos para entreter a criança durante a espera.

Atividades Propostas:
Duração aproximada: 2 semanas
Boas-vindas e apresentação da personagem da sala "A galinha Paulina", seguindo as pegadas e os cacarejos de nossa amiga chegarão ao local onde a encontrarão.

Atividades de rotina: fazer uma roda e cantar canções para cumprimentarem-se.
- Separar lenços para brincarem. Possíveis ações exploratórias: sentados, parados, passeando pela sala.
- Chamar a Paulina e cantar uma canção.
- Contar uma história onde aparecerão alguns animais amigos da Paulina.
- Saborear biscoitinhos preparados pela Paulina
-Desenhar com giz de lousa umedecido em leite açucarado a parte da história que mais gostou e depois expor na sala.
- Brincar com bacias de diferentes tamanhos transformando-as em distintos elementos e utilizando-as para passear pela sala.
- Fazer aparecer com a ajuda de palavras mágicas um trem de lenços (formar um trem amarrando as pontas dos lenços).
- Sair para um passeio por toda a escola cumprimentando todas as pessoas que encontrarem.
- Cantar a canção "Cabeça, ombro, perna e pé" e ir sinalizando com um lenço as partes destacadas.
- Pendurar os lenços em um varal com a ajuda da mamãe.
- Distribuir baldes e pás para brincarem junto com Paulina no tanque de areia. Fazer o trajeto cantando a música "O trem maluco...".
- As mães ficarão na sala criando com os lenços os amigos de Paulina e depois irão buscá-los no parque com a surpresa.
- Retornar a sala para brincarem com lençóis e com os animais criados pelas mães.
- Em roda apresentarão os amigos de Paulina criados pelas mães, dizendo qual é seu nome, o que gosta de fazer, o que gosta de comer, etc.
- Com caixas e lençóis as mães transformarão estes elementos em uma casa para o animal criado (cada uma deverá decorar a gosto).
- Distribuir bacias e brochas para brincarem com água no parque.
- Brincar com os amigos de Paulina em um grande lençol: brincar com fantoches de dedo.
- Forrar caixas com jornal e pintar com guache espesso utilizando os dedos.
- Passear com os animais em seus veículos pela escola, parando nas demais salas e cumprimentando as outras crianças e professoras.
- Comemorar o aniversário da Paulina na hora do lanche.
- Brincar com espuma de barbear sobre papel grosso.
- Trazer um boneco de casa e brincar com ele na escola e ao final banhá-lo com água e esponjas no parque.


Planejamento para as semanas seguintes (possíveis atividades):

- Brincar e explorar as distintas partes do corpo.
- Brincar de esconde-esconde com lenços transparentes e opacos, lençóis, papelão, etc.
- A professora irá se esconder e aparecerá com as palavras mágicas aprendidas.
- Ouvir histórias, poesias e versos observando as ilustrações.
- Brincar com bolhas de sabão  no parque, seguindo e pegando-as.
- Brincarem todos juntos com massinha.
- Brincar com caixas de papelão: fazendo cavalinho, criando caminhos, construindo tuneis e casinhas, entrando dentro e convidando o amigo para uma visita.
- Brincar com jornal.
- Brincar com bambolês, guizos, blocos de espuma, no tanque de areia...
- Colaborar com a professora na hora de organizar a sala.
- Brincar com a professora de música.

* fonte: Educação Infantil - o Guia da Professora/ Março 2008 - Editora Ediba

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A SALA DOS LIVROS MORTOS


A sala dos livros mortos
Ignácio de Loyola Brandão

No seu primeiro dia como funcionária daquela biblioteca pública, Ana Lygia foi levada pela diretora para conhecer o prédio. Subiram e desceram escadas, o elevador há muito tinha sido desativado por falta de verba de manutenção, por sorte eram apenas três andares, mais o porão. Secretaria, diretoria e salas e salas repletas de livros em estantes de metal, uma pequena sala de convívio, uma saleta para os jornais. Existia até uma quantidade razoável de volumes, ainda que o acervo estivesse desatualizado em relação à atual literatura brasileira. 
Quanto à mundial, a atualização era sentida pelos best-sellers, por aqueles que tinham sido os mais vendidos nas revistas semanais. Finalmente, desceram ao porão, havia montes de caixas com doações de livros ainda em fase de estudos, o que valia e o que não valia a pena, porque os doadores em geral entregam à biblioteca o que não querem em casa e o que ninguém quer e não presta para nada. Duas saletas com material de limpeza e uma sala com porta de ferro, trancada.
- E aqui?
- Ninguém entra. É a sala dos mortos.
- Mortos?
- Sim, a sala dos livros retirados de circulação.
- Retiram? E qual o critério?
- Se em cinco anos ninguém retirou o livro, ele é descartado do mundo  dos livros vivos.
- E ficam aqui? Quanto tempo?
- Para sempre.
- Não podem ser doados a outras bibliotecas, ao público?Avisam: quem quiser livros venha buscar? Assim talvez continuem vivos!
- A lei não permite. É um bem público. Pertence ao patrimônio. É a situação mais complicada que existe, porque a burocracia impede essa doação, é preciso montar um processo jurídico e, como todo processo jurídico, se eterniza. Nem vale a pena, o melhor é esquecer.
- Posso ver a sala?
- Melhor não entrar. Aliás, tem um problema, a chave foi perdida, para mandar fazer outra monta-se um processo administrativo.
- Talvez tenha livros interessantes que eu queira ler.
- Não adianta, a lei diz que devemos inutilizar. Quando o livro vem para cá, tem uma determinada página arrancada, ou duas, uma do começo, outra do final.
Leitora desde a infância, Ana Lygia lembrou-se do Barba-Azul e do famoso cômodo no qual suas esposas não podiam entrar e quando entravam eram assassinadas. Sua curiosidade aumentou. Ela começou a trabalhar e meses mais tarde foi designada para um plantão de domingo, uma experiência nova. Aconteceu de ser dia chuvoso e ninguém foi à biblioteca. Ana Lygia lembrou-se da sala dos mortos, desceu, experimentou, trancada. Subiu, perguntou a uma auxiliar se sabia onde estava a chave, ela apontou para uma gaveta, disse que ali havia umas cem chaves, talvez fosse uma delas. Ana Lygia colocou-as em uma caixa e desceu. Começou a experimentar uma a uma.
Algumas ela descartou pelo tamanho, outras entravam, não giravam, ela não forçava, com medo de quebrar. Exercício de paciência. Também, ela não tinha nada a fazer. Finalmente, a chave 83 funcionou. Veio de dentro um cheiro abafado de mofo e umidade, ela abriu totalmente a porta, esperou. Procurou o interruptor e uma luz amarelada inundou o cômodo de fantasmas. 
Havia pilhas de livros amontoados até o teto. E, em volta, junto à parede, uma coleção de extintores de incêndio. Contou 35, cada um de um modelo, percebeu que alguns eram velhos, outros pré-históricos. Poderiam ser alinhados em um museu, ali estava a evolução dos extintores, os mais antigos enormes, desajeitados, para manobrar aquilo seriam necessárias duas pessoas.
Havia ainda relógios de ponto, alguns estapafúrdios, palavra que ela associou à idade do equipamento. Também fariam o encanto do velho Dimas de Melo Pimenta, um ícone da relojoaria nesta cidade. Ela experimentou mexer nas alavancas, umas travadas pela ferrugem, outras funcionaram com um ruído seco. Quantos teriam sido pontuais, quantos o relógio teria punido? Gostava de imaginar coisas assim, afinal, havia um quê de ficcionista dentro dela, daí sua paixão pelos livros e por ter escolhido a profissão. Ana Lygia percorreu aquele porão empoeirado contemplando escovas, vassouras, rodos, baldes furados, panos de chão podres, latas de cera, tubos de desinfetantes, detergentes, latas com pedacinhos de sabão, escovões. 
Nossa, há quantas décadas o escovão desapareceu da cena doméstica, quem ainda encera a casa? Tudo que devia ser descartado, porém era impossível, tratava-se de patrimônio.
Afinal, dedicou-se aos livros. Estendeu a mão, curiosa, puxou um. A Menina Morta, de Cornélio Penna. Puxa, esqueceram o Cornélio? Ninguém o leu por cinco anos? Foi folheando, livro grosso, talvez isso tenha assustado. Lendo. De repente percebeu a página arrancada. Apanhou outro livro, A Montanha Mágica, de Thomas Mann. E José de Alencar, Lúcio Cardoso, Ibiapaba Martins, Osman Lins, Mário Donato (puxa, fez tanto sucesso nos anos 50), José Geraldo Vieira,John dos Passos, Romain Gary, Malcolm Lowry, Oscar Wilde, Maria Alice Barroso. Todos mutilados. Apanhou um deles, escondeu debaixo da blusa. Levou para casa. Na biblioteca de um amigo encontrou um exemplar completo, digitou a página faltante, colou dentro do volume doente. A cada semana, leva um embora, recupera. Ela imagina que em alguns anos terá recuperado todos. Leva para bibliotecas comunitárias, existem várias. A simples idéia de ver um livro reciclado, ou queimado, a deixa doente. Mais fácil comprar outro? Sim. Mas e o prazer de salvar um livro? 

O Estado de S.Paulo, 4 jul. 2008 


PROJETO TEATRO NA ESCOLA E NA COMUNIDADE


O teatro faz parte do Projeto Letras de Luz de maneira bastante importante, pois é uma das três vertentes do projeto. As cidades que recebem as oficinas de leitura também recebem oficinas de teatro e são chamadas a montar um grupo teatral. 
Teatro é uma das formas mais antigas de arte, diversão e cultura. Popular em praticamente todos os países, ele é originário da Grécia e já encantava seus habitantes muitos séculos antes de Cristo. Também como gênero literário, pode ser lido e estudado prazerosamente. Como uma atividade artística, tem a capacidade de agregar diversos saberes e competências e pessoas de todas as idades. 
Fazer teatro é uma brincadeira das mais sérias e deliciosas. Podemos dizer que representamos mesmo quando não sabemos que o estamos fazendo. Quando contamos uma história, uma piada, até mesmo quando contamos uma histórica ou causo acontecido conosco, estamos, de certa forma, representando um pouco. 
O teatro alia texto, leitura, representação e estética. Literatura e arte aliadas de maneira inseparável. Além do texto e de todo trabalho literário que se faz, o teatro coloca os participantes em contato com outros trabalhos complementares e igualmente importantes para que o teatro aconteça de maneira completa – como o cenário, o figurino, a trilha sonora, os cartazes, a divulgação. Todas essas atividades são igualmente importantes para a atividade teatral e podem despertar outros interesses nos participantes, em especial para os que não gostem ou não se sintam capazes ou prontos para representar. Podemos afirmar que, numa montagem teatral, há trabalho para todos os gostos. 

Objetivos
• Despertar o gosto pelo teatro, discutir e estudar outro formato de texto, outro jeito de ler, outro gênero literário. 
• Auxiliar escolas e comunidade a participar de atividades teatrais tanto na realização e atuação como na formação de público para os espetáculos do projeto e outros que surgirem na cidade. 

Seqüência das atividades 
1. Montagem de um grupo para trabalhar. Professor, escolha um caminho para tal grupo: interesses coletivos, faixa etária, horários comuns para reuniões e ensaios etc. 
2. Escolha de um texto: lembre-se de que pode ser um texto escrito originalmente para os palcos ou pode-se também utilizar o texto de outro gênero, como conto de fadas, de suspense, de humor, crônica, romance, e adaptá-lo ao teatro. 
3. Realize várias leituras do texto escolhido: lembre-se de que um texto, para ser encenado, precisa estar “na ponta da língua”, não só como texto decorado, mas também como texto compreendido, estudado, que todos possam falar e comentar.
4. Discuta o conteúdo do texto com o grupo todo, mesmo com quem não está em cena. Afinal, o conteúdo se reflete no cenário, nas músicas e em tudo que faz parte da montagem. É muito importante que os alunos aprendam isso e levem para seus trabalhos futuros. 
5. Ensaie e pratique exaustivamente com o grupo a leitura em voz alta. Ler em voz alta é uma atividade das mais importantes no trabalho de teatro. 
6. Faça a adaptação do texto, se o texto não for teatral, isto é, se ele não foi escrito especialmente para o teatro. Esta é uma atividade para a qual o professor de Língua poderá dar valiosa contribuição. 
7. Acompanhe o grupo na escolha do diretor. O papel de diretor de uma produção teatral é muito importante. O responsável por essa atividade tem que estar atento ao trabalho do grupo e dividir suas angústias e realizações com todo o grupo. 
8. Lembre-se de que não existe trabalho apenas para os atores, mas para várias outras atividades – as alunos podem gostar de música, cenário, cartazes, produção de palco, divulgação etc. Essas atividades também precisam de estudo e dedicação e podem revelar muitos talentos. 
9. É chegado o momento da estréia! Depois do período de ensaios e estudos, o grupo entende que é chegada a hora de mostrar ao público o trabalho pronto. É hora da estréia! 
10. Apresente publicamente o trabalho. O teatro precisa ter público, isto é, é preciso que o trabalho seja socializado e avaliado pela platéia. Procure apresentar-se diversas vezes e com públicos variados para que o grupo possa exercitar sua forma de representar. 
11. Acompanhe junto com seus alunos as apresentações do grupo de teatro Letras de Luz. O trabalho com teatro na escola pode ser potencializado se o grupo estiver atento e participar ativamente das apresentações feitas pelo grupo de teatro Letras de Luz. Parcerias com esse grupo e trocas de experiências podem e devem ser feitas.




*fonte: http://www.fvc.org.br/pdf/letras-oficina-1.pdf


quinta-feira, 18 de julho de 2013

PROJETO CARTÃO-POSTAL


Objetivos 
• Aproximar todos os participantes do Projeto Letras de Luz espalhados por quatro estados brasileiros através de um objeto de comunicação. 
• Aproximar adultos e crianças, professores e alunos de um mecanismo de comunicação que tem uma história das mais interessantes e uma utilização e importância mundiais. 
• Trabalhar com texto e imagem e a valorização das paisagens locais como forma de se comunicar com pessoas desconhecidas. Essa atividade é indicada para a sala de aula ou para a comunidade. 

Conversando sobre cartões 
Quem já enviou ou recebeu um cartão-postal? Lembra-se da alegria ou da surpresa? Muito utilizado como uma lembrança de viagem e uma maneira de compartilhar paisagens com amigos e parentes, a história do cartão não começa assim. Antigamente, a troca de cartões era muito mais constante e não se restringia a viagens e paisagens. Os cartões que trocamos nos dias atuais, em comemorações de aniversário, Natal, formaturas e tantas outras ocasiões, eram também trocados, enviados e recebidos em forma de cartão-postal. Ele valia como um telefonema, um e-mail, uma mensagem. Portanto, não tinha a característica que lhe damos hoje, ou seja, a de ser quase que somente um objeto de turistas. Mesmo restrito a viagens, os cartões cumprem uma missão das mais belas: eles se comunicam com alguém que está longe através de uma imagem e de um pequeno texto que tenta dizer muitas coisas. Os cartões que serão trocados no projeto serão confeccionados pelas pessoas que o vão enviar, o que indica que teremos atividades de observação da paisagem, de desenho e de escrita.

Atividades: 
1. Professor, se você escolheu esse projeto, em sala de aula, reúna o grupo que irá confeccionar os cartões. Uma boa conversa sobre cartões é bem-vinda. Recolha cartões com amigos e parentes para mostrar aos alunos. Peça que também eles procurem cartões postais com os familiares para levar para a classe. Ensine como se escreve num cartão-postal. Pergunte aos estudantes se a cidade possui cartões-postais de suas paisagens. Eles são conhecidos? Tais pesquisas e conversas ajudam a trabalhar o tema, já que muitas crianças (e também adultos) podem nunca ter enviado ou recebido um cartão. O livro Quando o Carteiro Chegou ajudará muito nessa conversa. Monteiro Lobato enviava cartões em muitos momentos de sua vida e os textos que escrevia tratavam de variados assuntos, dos mais íntimos aos mais corriqueiros ou até ligados ao trabalho e a política. 
2. Visitar a cidade. A atividade foi idealizada pensando numa paisagem da cidade para figurar no cartão. Tal premissa nos parece indicada, pois as pessoas ligadas ao projeto estão espalhadas por quatro estados brasileiros e será muito  interessante que mantenham uma correspondência e saibam um pouco sobre as outras cidades. Também está em jogo um novo olhar sobre a cidade na qual se mora. Ao ter a tarefa de desenhar e escrever sobre sua cidade, o mensageiro do cartão terá que fazer escolhas. O que retratar? O que dizer sobre sua paisagem? 
Por isso, sugere-se um passeio prazeroso nos locais escolhidos pelo grupo de alunos ou professores. Professor, lembre-se de que o refinamento do olhar é uma peça-chave dessa atividade. Uma árvore, uma montanha, um antigo bar com seus balcões antigos de madeira, casinhas, janelas enfeitadas com cortinas e pessoas alinhadas na paisagem: tudo é um bom motivo! Mas a escolha é do autor do cartão, sem dúvida. O importante é saber valorizar o olhar e as descobertas que serão feitas nesse passeio pela cidade. 
3. Professor, depois do passeio pela cidade, converse com os alunos sobre o que viram e sentiram no passeio. Só depois da conversa é que os estudantes começam a fazer seus desenhos. Se o projeto está sendo desenvolvido com a comunidade, tente agrupar as mais variadas idades no grupo. Pessoas mais velhas da região podem contar histórias sobre os lugares, valorizando-os ainda mais. Depois da conversa, o grupo pode escolher o tema de seu cartão e fazer esboços. Também podem desenhar diretamente no cartão, caso se sintam 
seguros para isso. 
4. A escolha do material é importante. Cada “artista” sabe com qual tipo de lápis, caneta ou giz seu desenho ficará melhor. A supervisão e ajuda de um professor de artes também podem ser pedidas. Caso a atividade esteja sendo feita somente por pessoas da comunidade, lembre-se de convidar artistas da região, desenhistas, jovens que gostem muito de desenhar, grafiteiros, cartunistas, cartazistas. A presença de pessoas ligadas a atividades artísticas pode ajudar a valorizar o trabalho dessas pessoas da comunidade, que muitas vezes não são reconhecidas na cidade. Mas não só especialistas são convidados e bem-vindos: todos podem desenhar! 
5. Para que a atividade seja completa, é preciso que os cartões sigam via Correio. Existem várias alternativas para realizar a tarefa postal: carta social, envio por lote de cartões e não isoladamente. 
6. As formadoras fornecerão os endereços para troca de cartões. Além de conhecer as cidades, espera-se que muitas novas e duradouras amizades surjam em todo o Brasil. 




quarta-feira, 17 de julho de 2013

PROJETO FOTONOVELAS E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS


Objetivos
No trabalho com fotonovela, o objetivo principal é aproximar os alunos de um  gênero bastante divulgado de literatura (e de entretenimento) comum nas décadas  de 1950 a 70. Para as Histórias em Quadrinhos, podemos dizer que os alunos já  convivem com esse gênero cotidianamente e o que desejamos é que sejam 
produtores dessas histórias. Em ambos os casos, colocar os alunos na posição de  produtores de textos, não só de leitores, é uma atividade que exercita a estética,  pois aí entram o desenho e a representação teatral como aliadas desses dois gêneros. 

Conversando sobre os gêneros 
Quem já leu uma fotonovela? Muito comum nas décadas anteriores às  telenovelas, as histórias fotografadas vendiam muito e encantavam leitores no mundo todo. Assim como hoje na TV e cinema, as fotonovelas tinham seus ídolos, galãs, musas, amados e vilões. Trata-se de um gênero que “brinca” e dialoga com texto e imagem ao mesmo tempo, num casamento bem arranjado. 
As histórias em quadrinhos estão por toda parte e são uma mania mundial. 
Desde as mais simples até gibis confeccionados por artistas plásticos que valem quase uma fortuna. Muitos heróis, que foram criados para as histórias em quadrinhos, se transformaram em sucesso do cinema, como Batman, Homem Aranha, Super-Homem e os mais recentes Quarteto Fantástico e Os Incríveis. 
Ambos os gêneros trabalham com o diálogo entre texto e imagem. Diferem em relação ao formato. A imagem/ação é representada via fotografia ou via desenhos, mantendo a idéia de quadros para encadear a história. 
Professor, comece contando sua experiência com a leitura desses gêneros ou fale de sua “não-experiência”, o que é muito importante também. Ou seja, dizer aos alunos que aprenderão juntos a ler e a fazer fotonovelas e quadrinhos. Para essa atividade, os alunos precisarão desenhar e fotografar as cenas, portanto, material de desenho e material fotográfico são essenciais. Pode-se fotografar com qualquer máquina, o importante é lembrar que as fotos deverão ser reveladas ou impressas, caso a máquina seja modelo digital. 

Seqüência de atividades: 
1. Tanto a fotonovela como as histórias em quadrinhos possuem trajetórias e curiosidades incríveis sobre seu surgimento, sua divulgação pelo mundo, seus grandes autores etc. Uma boa pesquisa para começar o trabalho será bemvinda. Ela pode incluir livros, internet e entrevistas com familiares, outros professores, jornaleiros de bancas de revistas e jornais, além de jovens de ensino médio e até universitários. Importante lembrar que as HQs são lidas por um público muito diverso e que muitos podem contribuir para a coleta de dados.
2. Professor, é possível que muitos alunos não conheçam fotonovelas, dado a distância entre as gerações. Leve algumas para a sala de aula para que possam conhecer o formato. Se não tiver um exemplar para mostrar, procure em sebos (livrarias que vendem livros e revistas usados). Nesse gênero, não basta saber de sua existência. É preciso conhecer o formato, pois ele é determinante. Faça uma roda de leitura, um Mar de Histórias, com fotonovelas e histórias em quadrinhos. Monte uma roda bem animada, na qual os alunos possam observar detalhes das revistas, os diferentes ilustradores, as maneiras distintas como as imagens são dispostas nas páginas, a maneira como o texto é inserido. Escolha trechos para ler, cenas que julgar interessantes para analisar. Faça uma pesquisa sobre os heróis preferidos da classe. Lembre-se de que se está trabalhando com gêneros que possuem a imagem como aliada fundamental da escrita. A imagem é considerada texto por muitos especialistas, portanto, ela sugere outro ritmo de leitura, um novo jeito de ler e de olhar.
3. Depois de familiarizados com as revistas e suas histórias, o grupo de professores irá decidir se quer fazer HQs ou fotonovelas. Ou talvez os dois! Para a fotonovela, o primeiro passo é a escolha de um texto. Os alunos podem criar uma história ou adaptar um texto para fotonovela, que pode ser um conto, uma lenda, uma fábula ou uma crônica. Muitos gêneros podem ser adaptados. Professor: aproveite algum texto ou gênero que já esteja trabalhando em Língua Portuguesa. É preciso refletir/estudar com os alunos as características das narrativas de fotonovelas: texto não muito longo, ações sequenciadas (ainda que possam acontecer digressões), importância maior na expressão que na figura do narrador para que as imagens/fotos 
comuniquem sentimentos e atitudes. 
*Para as HQs, o caminho pode ser invertido, ou seja, pode-se começar pela criação de algumas imagens se o desejo for criar um personagem, um super herói, um tipo engraçado, um tipo caricato etc. Na criação de um personagem, várias habilidades/desafios se colocam para o aluno: quem é o personagem, o que ele faz, o que ele pensa, quais confusões e problemas ele enfrenta, quais problemáticas/dilemas do mundo ele discutirá etc. Depois de criado o personagem e suas características, é necessário criar o enredo e aliar texto e imagem. Porém, em HQs, também é possível adaptar textos de outros gêneros e até textos do cotidiano. Atualmente, é bastante comum termos todos os assuntos: ciências, política, economia, religião transformados em histórias em quadrinhos! Assim, o trabalho pode acontecer em parceria com outras áreas e disciplinas. Professor: a leitura do livro História em Quadrinhos na Escola, de Flávio Calazans, pode ser um valioso auxiliar neste projeto. 
4. Várias aulas devem ser destinadas a essas atividades, já que o trabalho de criação pode ser lento e necessitar de revisões, alterações, diálogos entre os grupos de alunos e os professores. Uma parceria com a área de artes é bem-vinda, em especial na escolha dos melhores materiais a serem trabalhados (giz de cera, caneta, lápis, colagem, caneta hidrocor). É preciso definir, com antecedência, o melhor material para o tipo de desenho que os alunos vão criar. Para a fotonovela, é preciso lembrar que os alunos precisarão, necessariamente,fotografar as cenas.
5. Também para a fotonovela, deve-se ensaiar as cenas antes de fotografar, pois elas necessitam comunicar o que se deseja dizer, mas precisam também caber num espaço determinado de página. É preciso aprofundar com os alunos a questão estética desse gênero, pois ele é determinante para o resultado final. Várias aprendizagens/habilidades devem ser colocadas em prática, como o manejo da máquina fotográfica (que atua como um diretor de cinema ao dirigir a cena), a dramaticidade dos alunos e a comunicação dessa dramatização através da foto e do texto. Para ambos os trabalhos, a disposição do texto em balões ou legendas e a fala do narrador são fundamentais. 
6. Professor, depois de prontos os trabalhos, faça uma exposição. Expor o que foi feito deixará todos muito felizes e orgulhosos. Uma exposição poderá cativar futuros leitores de HQs e fotonovelas!

terça-feira, 16 de julho de 2013

AS MÚLTIPLAS FACES DA AVALIAÇÃO

A avaliação, entendida como um processo amplo de tomada de decisões no âmbito dos sistemas de ensino, é algo recente no Brasil. Temos pouco mais de uma década de avaliações sistemáticas. Hoje, quase todos os estados e muitos municípios contam com seu próprio sistema de avaliação. Em todos, mais do que conteúdos, são analisados competências e habilidades, o próprio currículo, os hábitos de estudo dos alunos, as estratégias de ensino dos professores, o tipo de gestão dos diretores e os recursos a eles oferecidos para melhor realizar o seu trabalho.
A avaliação é condição necessária para que se possam estabelecer e acompanhar metas qualitativas e quantitativas e verificar se estas últimas são atingidas.
Há, portanto, necessidade de contar com mecanismos que permitam produzir informações sobre o que se ensina e o que se aprende nas escolas e sobre a forma de dar mais transparência aos sistemas educacionais perante a sociedade.
Fala-se muito em mudanças e inovações do sistema educacional estimuladas pela avaliação. Qualquer mudança, no entanto, tem de ser assumida e implementada dentro das escolas. Mudar a educação é mudar a escola. Se tivermos a intenção de usar a avaliação para melhorar a educação, esta terá que ser trabalhada dentro das escolas, sendo seus resultados utilizados efetivamente pelos professores e alunos no cotidiano da relação ensino x aprendizagem.

Avaliação externa e interna

A avaliação de um sistema de ensino deve se basear, também, na avaliação das escolas por elas próprias. Nesse caso, além das avaliações nacionais, estaduais e municipais, cada escola deve se autoavaliar quanto a seus programas, projetos, materiais pedagógicos, recursos, professores, alunos, a sua gestão, infraestrutura e a seu pessoal de apoio.
A importância de a escola se autoavaliar está no fato de que, sendo o local onde as coisas acontecem, é, também, onde se dá o diálogo entre equipe, pais, alunos e autoridades gestoras do sistema. Toda a comunidade escolar deve ser preparada para poder combinar os produtos das avaliações externa e interna. Só uma boa e séria avaliação interna permitirá às escolas a construção de um diálogo efetivo com a avaliação externa. Quando isso não ocorre, a avaliação externa pode gerar atitudes defensivas, não atingindo seus objetivos.
A avaliação intraescolar é um processo que exige uma tomada de consciência da importância da avaliação para que se estruturem processos de mudanças. Envolve, ainda, descentralização e treinamento de equipes escolares.
Cabe aos gestores de políticas públicas em educação, agora que a avaliação já está sendo institucionalizada, tomar iniciativas para que grupos de escolas se reúnam, discutam seus problemas, formulem estratégias de avaliação, utilizem a linguagem da avaliação, descubram suas potencialidades e adequem suas ações às necessidades específicas de suas clientelas.
Ninguém, na realidade, aprende a avaliar discutindo conceitos de avaliação. É preciso experimentar, tentar, criar estratégias, envolver a equipe, tendo como horizonte melhorar a qualidade da educação e diminuir índices negativos, sejam de desempenho, evasão ou repetência. Normalmente, deve-se selecionar alguma questão e envidar esforços para praticar a avaliação interna sobre ela. Não é difícil organizar uma base de dados por escola, base esta que deverá conter índices de matrícula, evasão, desempenho, repetência, projetos implementados, currículo praticado e tudo o que for julgado pela equipe como insumo necessário à avaliação da escola.
Envolver professores, pais e alunos na tarefa de avaliação intraescolar não é fácil, mas não é impossível. À medida que as escolas começarem a efetuar suas próprias avaliações internas, haverá maior facilidade em obter subsídios a partir das avaliações externas, de tal forma que o processo avaliativo cumpra sua função: mudar o que precisa ser mudado, aperfeiçoar o que precisa ser aperfeiçoado, construir o que precisa ser construído.
A avaliação, portanto, deve servir de base para o diálogo e não para dar origem a descrições assertivas e unilaterais. Escolas habilitadas à avaliação interna entenderão que avaliar é um processo contínuo, coletivo e não uma atividade isolada. Dessa forma, se envolvidas em sua própria avaliação, as escolas terão condições de se confrontar com diferentes perspectivas e conclusões.
Alunos, professores e gestores de escolas devem se tornar participantes ativos dos diálogos de avaliação em vez de serem recipientes passivos das descrições e dos julgamentos feitos. O papel de uma avaliação externa é o de fazer com que as escolas tenham um olhar de estranhamento sobre elas próprias. Esse tipo de avaliação oferece, ainda, possibilidades de observar o desempenho dos alunos, mas também tem limites, o que torna indispensável a avaliação em sala de aula, pelo professor.

Limites e possibilidades das avaliações externas

Atualmente, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro vem desenvolvendo avaliações externas, bimestralmente, em duas disciplinas, Língua Portuguesa e Matemática. Todos os alunos do Ciclo Intermediário ao 9º ano realizam testes com a finalidade de aferir as habilidades por eles dominadas nessas disciplinas. Cada professor recebe o resultado de sua própria turma, o que permite que cada escola e cada turma olhem para si próprias e percebam o nível de domínio já alcançado nas habilidades propostas ou o que fazer para levar seus alunos a alcançá-lo.
Os testes organizados pelos especialistas da Secretaria Municipal de Educação adotam o modelo de múltipla escolha, por este fornecer uma série de possibilidades, entre as quais destacamos a  redução da subjetividade na correção, a possibilidade de avaliar uma grande quantidade de habilidades, a discriminação precisa do nível de domínio de cada habilidade testada e a possibilidade de cada professor verificar, através do percentual de acertos de seus alunos, como sua turma se encontra em relação ao conjunto de alunos do município. No entanto, esse formato tem limites, tais como a dificuldade na elaboração de itens de acordo com as habilidades requeridas, dentro do nível de complexidade exigido. Há, também, o problema de não avaliar a escrita dos alunos, só a leitura e a interpretação de textos, além de não permitir verificar o desenvolvimento do raciocínio matemático, isto é, o aluno examina e escolhe alternativas propostas, mas não expressa suas próprias ideias.
Mesmo oferecendo limitações, os testes de múltipla escolha são a melhor forma de se acompanhar o desenvolvimento das habilidades dos alunos de todo um sistema educacional. Seus limites podem e devem ser revistos pelos professores. Se cada professor, depois dos testes de múltipla escolha, refizer todas as questões com seus alunos sob a forma de perguntas abertas, certamente, esses limites impostos pela necessidade de se usar um determinado tipo de questão desaparecerão.

O papel da avaliação do professor

Nos parágrafos anteriores, fica clara a necessidade de diálogo entre os diferentes tipos de avaliação, porém, é relevante discutir a grande importância das avaliações realizadas pelos professores em sala de aula.
A avaliação do professor deve ser  formativa, indo além das demonstrações do “saber” de seus alunos, enfocando hábitos, atitudes e  valores a serem construídos e solidificados. Certamente, deve ser diagnóstica, verificando possíveis problemas na formação de conceitos e habilidades, antes que essas dificuldades se transformem em grandes problemas. Um claro exemplo disso é o da formação do conceito parte-todo, que está na raiz da resolução de problemas que envolvem frações e decimais, presente em todas as séries do Ensino Fundamental.
O desenvolvimento dos alunos e seus desempenhos podem ser bastante aprimorados quando as informações de vários tipos de avaliações, não necessariamente testes e provas, são usadas pelos professores para discussão com seus alunos. São também formativas as informações sobre o rendimento do trabalho do aluno em diferentes grupos, projetos e a própria participação de cada aluno em  sala de aula. Nada, portanto, substitui a avaliação professor/aluno.
Além disso, em geral, os próprios professores realizam suas avaliações somativas ou informativas ao fim de cada unidade de trabalho ou bimestre e, a partir do que detectam, normalmente, reveem habilidades não de todo dominadas, modificam estratégias de ensino, retomam conceitos sem se ater  pura e simplesmente a lançar novos conteúdos e habilidades prescritas no currículo. É importante, também, levar os alunos a se engajarem no processo de avaliação, nos diversos momentos da sala de aula, de tal modo que a avaliação participativa desmistifique a avaliação final como modelo único.
Como conclusão, pode-se afirmar que, se todos os tipos de avaliação dialogarem entre si, os maiores beneficiários desse diálogo serão os alunos. Na realidade, a avaliação deve deixar de ser um discurso de descrição e julgamento para se tornar um discurso de diálogo.

*Doutora em Educação PUC/Rio



Referências bibliográficas



LOCATELLI, I. Construção de instrumentos para a avaliação em larga escala e indicadores de rendimento: o modelo do Saeb. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, n. 25, p.3-21, 2002.



(_______) Novas Perspectivas de Avaliação. Ensaio – Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, v. 9, n. 33, p. 475-487, outubro/dezembro 2001.



PERRENOUD, P. Novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.



(_______) Prática pedagógica, profissão docente e formação. Portugal: Editora Dom Quixote, 1996.



(_______) Avaliações em educação: novas perspectivas. Porto Editora, 1995.



SACRISTAN, G. Consciência e ação sobre a  prática como libertação profissional dos professores. In: NÓVOA, Profissão, Professor. Porto Editora, 1995.




LITERATURA INFANTIL E ESCOLA: A ESCOLARIZAÇÃO DO TEXTO

Marisa Lajolo

(...)
Entre as atividades hoje mais freqüentemente sugeridas para despertar e desenvolver o gosto (quase sempre chamado de hábito) pela leitura, encontram-se a transformação do texto narrativo em roteiro teatral e subseqüente encenação; a reprodução, em cartazes ou desenhos, do tema, da história ou de personagens do livro; a criação, a partir de sucata, de objetos ou colagens de alguma forma relacionados à história; as pesquisas que aprofundam algum tópico que o texto aborda; o prosseguimento da história, sua reescritura com alteração do ponto de vista; entrevista (real ou simulada) com autor ou personagens do livro; jogral ou coro falado quando se trata de poemas; e tantas outras, familiares a quem tem intimidade com a literatura infantil.
A freqüência com que essas atividades são sugeridas em fichas de leitura, encartes, suplementos e similares só se compara à sofreguidão com que, quando ausentes, são solicitadas pelos caros mestres, às voltas com a árdua tarefa não só de fazer com que seus alunos leiam, mas, principalmente, de fazer alguma coisa com o que seus alunos efetivamente leram! A inclusão de sugestões de atividades em livros destinados ao público infantil já foi interiorizada como necessidade pelos professores, que as solicitam quando não as encontram no livro que escolhem para seus alunos:
Até hoje a editora não preparou nenhuma “ficha de leitura” ou “ficha de interpretação” do Gênio do Crime, como é uso em outros livros dados em classe, a pedido meu. Acho que tais fichas delimitam a apreciação do livro e a uniformizam.
Nas visitas que tenho feito em classe, desde 1969, encontrei ótimos professores que, segundo seu critério e segundo o adiantamento da classe, adotam este ou aquele tipo de trabalho, muitos excelentes e originais.
Não é minha intenção impor um método de trabalho sobre O Gênio do Crime. Os professores que já experimentaram seus métodos particulares devem continuar a fazê-lo. O método ideal de exercício surge sempre da conjunção do modo de ser do professor com o modo de ser da classe, coisa personalíssima e que uma ficha de leitura não pode prever.
Acontece que a editora, há vários anos, continua recebendo solicitações para que O Gênio do Crime venha acompanhado de uma ficha de leitura. Atendendo a estes pedidos  elaborei as seguintes alternativas de métodos de trabalho. O depoimento de João Carlos Marinho registra o momento em que os professores delegam a terceiros o planejamento das atividades de leitura que desenvolverão com seus alunos. Se na origem dessa distorção está o despreparo do magistério, seu achatamento salarial, a precariedade das condições de seu exercício profissional, reconhecer tudo isso não diminui a gravidade do fato de que a leitura patrocinada pela escola de hoje parece sofrer de uniformização.
Essa uniformização, no entanto, pode passar despercebida, pois muitas vezes vem embrulhada em propostas que, em nome de uma leitura lúdica e criativa, gerenciam o envolvimento com o texto, imergindo a leitura em atividades que apenas simulam criação e fantasia:
Ao lermos a história do Capitão Argo e sua nave prateada no planeta das árvores chamejantes que o Fausto Cunha inventou e que naturalmente vai interessar – e muito – aos pré-adolescentes, podemos convidar o pessoal para embarcar numa nave imaginária e viver suas próprias peripécias. Para isso, precisamos preparar o espaço da viagem. O espaço propriamente dito, os possíveis itinerários, o local da decolagem e aterrisagem, a duração da viagem e assim por diante.
Tiramos as cadeiras da sala de aula (se possível) ou as afastamos para um canto. Limpo o chão, embarcamos em nossas naves individuais ou em pequenos grupos e nela soltamos a nossa fantasia num vôo realmente sem limites. A nave espacial flutua (e o nosso corpo flutua junto) e nos leva a espaços desconhecidos e a mil aventuras. (Guia de Leitura 4. 4ª Ciranda de Livros. Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. P. 26.)
Sem atenção para níveis metafóricos do texto e da leitura, essa proposta referencializa e banaliza o ato de ler. Condena à pobreza da improvisação teatral sugerida a viagem de cada leitor; embarca-o numa nave, necessariamente pobre ao confinar-se ao espaço (mesmo sem carteiras!) de uma sala de aula; empobrece a viagem ao cristalizá-la num itinerário prévio, ao encolhê-la a uma duração definida.
Não se trata, evidentemente, de dizer que tais atividades são desaconselháveis, prejudiciais, más em si mesmas. Nada, em si mesmo, é bom ou mau.
O problema é que atividades sugeridas indiferenciadamente para muitos milhares de alunos, distribuídos em pacotes endereçados a anônimos e despreparados professores, passam a representar a varinha mágica que transformará crianças mal alfabetizadas e sem livros disponíveis em bons leitores. Favorecem ainda a crença de que sua realização operará o milagre de transformar os professores em orientadores de leitura, fazendo vista grossa à sua pouca familiaridade com livros, não questionando sua leitura quantitativa e qualitativamente muito pobre, deixando intocada sua estranheza face a práticas mais significativas da linguagem. Na rotina de tais atividades camuflam-se riscos sérios de alienação da leitura.
Aí, sim, tais atividades são más, desaconselháveis, prejudiciais.


Atenção: este texto foi extraído do livro Do Mundo da Leitura, para a Leitura do Mundo, de Marisa Lajolo, Editora Ática, SP, que faz parte do acervo doado às cidades no Projeto de Luz. Quem tiver interesse em ler os outros textos ligados a essa pesquisa da autora pode procurar pelo livro.