domingo, 2 de junho de 2013

DESENHAR COM ESFEROGRÁFICA, POR QUE NÃO?

Sempre à mão, a caneta esferográfica tornou-se a grande cúmplice da ilustradora laura teixeira, que compartilha neste artigo a proposta de uma oficina criativa


Comecei a desenhar com caneta esferográfica com uns dois anos de idade. Muitas vezes ia com minha família comer fora aos domingos e os únicos materiais disponíveis eram uma caneta Bic azul ou preta e um bloquinho pequeno, que apareciam na minha frente assim que nos sentávamos para esperar a comida. Fui, portanto, adquirindo muita familiaridade com as canetas. Por isso, resolvi usá-las para fazer os esboços de O jarro da memória, o primeiro livro infantil que ilustrei. O resultado agradou o pessoal da editora, e então decidimos que os desenhos finais teriam como base essa técnica. No entanto, para obter uma impressão mais viva, resolvemos usar cores especiais no livro inteiro (e não as cores primárias, como na grande maioria dos casos).

Para isso, no processo de finalização, os desenhos foram todos feitos com caneta esferográfica preta, e depois coloridos no computador. Algumas partes, porém, foram feitas com lápis grafite. Antes do lançamento de O jarro da memória, ministrei a primeira oficina sobre o tema, Meu Livro de Recordações, na Primavera do Livro, realizada em São Paulo, em 2005. Esta mesma proposta foi repetida algumas vezes, na Livraria da Vila, Livraria Cultura e na Escola Alecrim, todas na cidade São Paulo. As crianças eram convidadas a construir seu próprio caderninho de desenho, utilizando, entre outros materiais, as canetas esferográficas, claro. A seguir, apresento a proposta desta oficina.

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Proposta de oficina

Na oficina Meu Livro de Recordações, cada criança produz seu próprio livrinho de recordações, para registrar, sempre que quiser, algo interessante de sua vida. Durante a atividade tomam conhecimento das diversas etapas envolvidas no processo: concepção da capa, encadernação e refile. Inicialmente, é feita uma breve leitura do livro O jarro da memória, e há uma conversa sobre as lembranças das crianças. Cada uma recebe então canetas esferográficas, algumas folhas auto-adesi-vas estampadas (as estampas são as mesmas criadas para o livro), tesoura e uma folha de papel colorplus A4 dobrado ao meio.

A proposta é confeccionar a capa do livrinho, ilustrando uma ou mais recordações. Os miolos dos livros são previamente preparados (8 folhas de papel jornal dobradas ao meio por pessoa). A encadernação (com 2 grampos) e o refile (com estilete) é feito por adultos à medida que as crianças vão terminando as capas.

(Laura Teixeira, é ilustradora e designer)

Quem é a artista

Laura Teixeira é ilustradora e designer. Nasceu em São Paulo em 1976, estudou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e especializou-se em ilustração em Barcelona na EINA – Escola de Design e Arte. É mestranda na FAU-USP, na área de Design. Tem colaborado com diversas revistas, entre elas Pesquisa Fapesp, Foco Economia e Negócios e TAMKids. Em 2005, ilustrou seu primeiro livro infantil, usando canetas esferográficas, O jarro da memória, com texto de Claudio Galperin.

O Jarro da Memória

Num texto delicado e poético, que se integra às ilustrações como um elemento gráfico, o escritor Claudio Galperin busca um fio para unir infância, maturidade e velhice: a memória, que reordena os acontecimentos marcantes da vida e lhes dá sentido. Ainda pequena, a personagem Laurinha inventa um “guardador de lembranças”: um jarro de barro onde as memórias se acumulam na forma de pedrinhas. Assim ela pode recordar os acontecimentos especiais da sua vida, como o nascimento de uma figueira, a morte da avó ou mesmo um ataque de riso sem motivo. Escritor e roteirista de cinema e televisão, em O jarro da memória Galperin retoma o tema da nostalgia, também abordado na novela para adultos O avesso dos dias (Beca, 1999).

Laura Teixeira, por sua vez, estréia na ilustração de livros infantis com um trabalho artesanal, feito com canetas esferográficas comuns, além de tinta branca e grafite. Nas palavras do escritor Rodrigo Lacerda, que assina a quarta capa, “os sentimentos, é claro, não podem ser investigados com os olhos, e nem examinados com a mão. Mas, assim como a menina lhes dá a forma de pedras, Claudio Galperin e Laura Teixeira também botam no papel, com letras e desenhos, esses mistérios que nascem no coração da gente”.


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