quarta-feira, 6 de maio de 2009

SEQUÊNCIA DE ATIVIDADES A PARTIR DE CONTO

Análise de "Conto de Escola"


Objetivos:
• Saber quem foi o escritor Machado de Assis: em que época viveu, o que escreveu e a importância dele para a literatura brasileira.
• Conhecer o momento histórico brasileiro em que viveu o escritor.
• Ler e compreender Conto de Escola.
• Distinguir conto de outras gêneros narrativos, como apólogo, fábula e lenda.
• Contribuir para a formação do leitor literário.
Conteúdos
• Biografia de Machado de Assis.
• Momento histórico brasileiro: fim do Império, abolição da escravatura, proclamação da República.
• A sociedade do Rio de Janeiro no século 19.
• Conceito de conto.
• Conceito de corrupção e delação.
Tempo estimado: 24 aulas
Material Necessário:
• Um exemplar de Várias Histórias (editoras Ática, Martin Claret ou Martins Fontes)
• Cópia de Conto de Escola para todos os alunos
• Obras de Machado de Assis (disponíveis no site www.dominiopublico.gov.br);
• Biografia de Machado de Assis
• Um bom dicionário.
• Livros e sites de História do Brasil sobre fim do Império, abolição da escravatura, proclamação da República e a sociedade do Rio de Janeiro no século 19.
• Imagens do escritor e da sua época.
• Revistas com reportagens sobre Machado de Assis.
• Documentários e filmes.
Desenvolvimento
1ª ETAPA: Peça que os alunos citem nomes de escritores que eles conhecem, ou porque já leram livros ou porque ouviram falar deles. Ajude-os nesta lembrança, dizendo títulos de obras que você sabe já terem sido lidas por eles. Vá escrevendo os nomes dos escritores no quadro-negro. Se não forem citados, não se esqueça de acrescentar à lista importantes nomes como: Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Ricardo Azevedo, Ângela Lago, Eva Furnari, Tatiana Belinky e, principalmente, Monteiro Lobato. Continue a investigação. Pergunte se eles sabem quem são os dois famosos escritores brasileiros que estão sendo homenageados em 2008. Dê as dicas: um é mineiro e nasceu em 1908. É conhecido internacionalmente pela obra Grande Sertão: Veredas. O outro é carioca e morreu em 1908. É mais conhecido pelo livro Dom Casmurro, em que conta a polêmica história de amor entre Capitu e Bentinho. Mostre imagens do escritor Guimarães Rosa (1908-1967), nascido em Cordisburgo, a 124 quilômetros de Belo Horizonte, e de Machado de Assis (1839-1908), nascido no Rio de Janeiro. Observe as informações que a garotada já tem para equilibrá-las com os novos conhecimentos. Em seguida, conte que a turma conhecerá o principal escritor brasileiro, Machado de Assis, a vida e as obras dele e a época em que viveu.
2ª ETAPA: O ambiente retratado nas obras de Machado de Assis está muito distante da realidade dos estudantes. Para aproximá-los daquele tempo, transforme a sala de aula num espaço oitocentista. Reúna as obras de Machado e elementos visuais representativos do século 19: revistas, documentários, filmes, imagens, objetos etc. Crie com a garotada um ambiente literário. Todos os dias, enquanto durar o projeto, coloque-as no chão sobre um bonito tecido colorido (uma cortina, uma colcha, uma canga etc.). Também monte um painel. Para isso, divida a classe em grupos, cada um responsável por pesquisar um tema: o Brasil do século 19; cenários, pessoas, transporte (carros puxados a burro e bondes com tração animal) do Rio de Janeiro mostrados em gravuras e pinturas; biografia do escritor e a relação das obras.
3ª ETAPA: Realizadas as etapas anteriores, a classe estará familiarizada com o século 19. É o momento de iniciar a leitura do texto Conto de Escola. Esclareça, antes, que conto é uma narrativa geralmente curta e concisa. A linguagem é densa, com economia de palavras. A síntese é sua característica mais importante: as ações ocorrem em um espaço bem delimitado e em curto espaço de tempo. Por esse motivo, o autor tem de selecionar o que deseja enfatizar, eliminando descrições detalhadas de personagens e ambientes e longas complicações de enredo, comuns nos romances, que são narrativas mais extensas. O conto apresenta os mesmos elementos de qualquer outro texto narrativo: fatos em seqüência, personagens, espaço, tempo e narrador. Porém, nele, o desfecho é essencial e sempre traz uma revelação. A literatura brasileira tem contistas brilhantes, a começar pelo mestre Machado de Assis. Proponha uma comparação entre os gêneros narrativos conto, apólogo, fábula e lenda. Peça que os alunos expliquem quais as diferenças e semelhanças entre eles. Escolha um texto de cada um desses gêneros para ler para os alunos. Dê preferência a textos que eles ainda não tiveram oportunidade de ler. Explique que apólogo é uma narrativa curta e, como a fábula, tem uma moral. Elas se distinguem pelas personagens: no apólogo são objetos inanimados (plantas, pedras, rios, relógios, moedas, estátuas etc.) e na fábula, geralmente, são animais. E lenda é a narrativa que explica de forma simples, por meio de uma história exemplar, as coisas da vida, dos fenômenos naturais e do universo. Depois da leitura dos textos, da conversa sobre as histórias e das comparações, faça uma tabela no quadro-negro com as diferenças e semelhanças entre esses gêneros narrativos apontadas pelos alunos. Auxilie-os nesta atividade.
4ª ETAPA; Ambientado no Rio de Janeiro de 1840, Conto de Escola narra as lembranças de Pilar de um dia nada agradável da sua infância, quando ele era menino e cursava os primeiros anos escolares. Pilar é o próprio narrador do que aconteceu naquela segunda-feira fatídica. Dê atenção às palavras e expressões desconhecidas. Ajude os alunos a descobrir os significados pelo contexto. Elabore um glossário com as palavras e expressões do texto menos usuais. Monte um painel com elas e deixe à vista de todos para consulta, quando necessário. Faça uma leitura colaborativa, ou seja, você e os estudantes lêem em conjunto, passo a passo. Por meio dessa atividade, você ensina a ler, à medida que vai explicitando as estratégias e procedimentos que um leitor proficiente utiliza.
"Leitura colaborativa é uma atividade em que o professor lê um texto com a classe e, durante a leitura, questiona os alunos sobre as pistas lingüísticas que possibilitam a atribuição de determinados sentidos" , explicam os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, de 1ª a 4ª série. Como a leitura colaborativa exige uma leitura com pausas, questionamentos e intervenções constantes do professor, reserve um bom tempo para essa prática. Por meio dela, leve o aluno "a elaborar hipóteses (antecipação); confirmá-las ou refutá-las (checagem) à medida que se avança na leitura; a identificar novas hipóteses e justificá-las com base no sentido já atribuído e em pistas lingüísticas; a estabelecer relações com a realidade, diferenciando realidade e ficção, entre o conteúdo do texto em discussão e outros textos já trabalhados (intertextualidade); a identificar o significado de palavras com base no contexto (inferência local); a sintetizar as idéias nele contidas (generalização); a identificar as intenções do autor etc. São alguns aspectos de conteúdos de leitura relacionados à compreensão do texto, para a qual a contribuição da leitura colaborativa é essencial."
Inicie a leitura do conto situando a história. O lugar era a escola, um sobradinho de grade de pau, que ficava na Rua do Costa. A época era o ano de 1840, e tudo aconteceu numa segunda-feira, do mês de maio. Leia parágrafo por parágrafo. Peça que identifiquem a idéia principal de cada um. Oriente-os para que identifiquem o(s) parágrafo(s) que conta(m):
• A dúvida do narrador, se vai ou não para a escola naquela segunda-feira.
• Como era o pai de Pilar.
• Por que o pai queria que ele fosse caixeiro.
• Como era o mestre.
• Como era Raimundo.
• Como era Pilar.
• Como era o Curvelo.
• Em que época política estava o Brasil. Discuta a hesitação do menino Pilar. Ele não tinha certeza se ia ou não à escola naquela manhã de segunda-feira. O que ele decidiu? Qual foi o motivo dessa decisão? Continue a discussão: que expressão do texto indica que Pilar era estudante do Ensino Fundamental I? O que Raimundo queria que Pilar fizesse para ele? Por que Raimundo demorou tanto para dizer o que queria? Que trecho do texto indica que Pilar estava muito ansioso para saber o que Raimundo queria dele? Qual era a idade do Curvelo? Qual era a idade aproximada do Raimundo e do Pilar? Por que o professor lia o jornal com tanto interesse? O que aconteceu do momento em que Raimundo mostra a moedinha para Pilar até quando o mestre descobre tudo? Como o mestre ficou sabendo de tudo? Como o mestre castigou os meninos? Pilar deseja se vingar de Curvelo. Por que ele não consegue se vingar? Como foi a manhã seguinte? O que aconteceu com as calças novas que Pilar ganhara da mãe? Como ele reagiu ao escutar o tambor do batalhão dos fuzileiros? Pilar foi para a escola?
5ª ETAPA O texto Conto de Escola permite várias reflexões sobre a escola do século 19, como método de ensino e formas de castigo, e as atitudes de corrupção e de delação. Ajude a garotada a refletir sobre o que foi lido e questione:
• Como era a aula?
• O que a classe fazia quando o professor entrava na sala?
• O que é rapé?
• Como eram os castigos físicos e verbais na escola e na família?
• Na situação do Raimundo, que estava com dificuldade de fazer a lição e tinha muito medo do pai, que era seu professor, como você agiria?
• O que você achou da atitude do Raimundo?
• E se você fosse Pilar, aceitaria receber a moedinha, em troca de um favor?
• Se você fosse Curvelo, como agiria se tivesse presenciado a mesma cena que ele presenciou?
6ª ETAPA Trabalhe os conceitos de corrupção e delação. Peça que expliquem a frase final: "E contudo a pratinha era bonita e foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação; ..." Solicite que digam outros exemplos de situações de corrupção e de delação. Peça que citem os adjetivos correspondentes a esses substantivos: aquele que faz uso da corrupção é corrupto. E aquele que faz uso da delação é delator. Pergunte se eles sabem que a expressão popular "dedo-duro" corresponde a delator. Avaliação Como o objetivo é a formação do leitor literário, são a compreensão e a visão crítica do texto que devem ser avaliadas. Para isso, sugerimos algumas atividades que permitem avaliar esta dimensão:
• Leitura dramatizada do texto, em que um aluno é o narrador e outros fazem os diálogos.
• Transformar o texto em peça de teatro, desde que eles tenham entrado em contato com textos desse gênero.
• Debate sobre a atitudes dos personagens do Conto de Escola.
• Seminário sobre a escola do século 19 e a escola do século 21: o papel do professor.
• Discussão sobre os castigos que os adultos aplicavam em crianças com vara de marmeleiro e palmatória. Relacionar com o Estatuto da Criança e do Adolescente. Hoje esses castigos seriam permitidos?
• Contação da história, sem ler, para um público que não seja formado pelos colegas.
• Reescrita da história, em grupo, com a mudança do foco narrativo. Grupo 1: Curvelo é o narrador; grupo 2: Raimundo é o narrador; grupo 3: o mestre é o narrador.
• Comparação da história de Pinóquio com a história de Pilar, do ponto de vista do que elas apresentam sobre escola. Discutir: Escola é prisão? Como base para a discussão, peça que os alunos releiam o trecho: "Com franqueza, estava arrependido de ter vindo. Agora que ficava preso, ardia por andar lá fora, e recapitulava o campo e o morro, pensava nos outros meninos vadios, o Chico Telha, o Américo, o Carlos das Escadinhas, a fina flor do bairro e do gênero humano. Para cúmulo de desespero, vi através das vidraças da escola, no claro azul do céu, por cima do morro do Livramento, um papagaio de papel, alto e largo, preso de uma corda imensa, que bojava no ar, uma coisa soberba. E eu na escola, sentado, pernas unidas, com o livro de leitura e a gramática nos joelhos. - Fui um bobo em vir, disse eu ao Raimundo."

Consultoria: Heloisa Cerri RamosEspecialista em Língua Portuguesa e formadora do projeto Letras de Luz, da Fundação Victor Civita.

*fonte : Revista Nova Escola

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