terça-feira, 10 de março de 2009

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CONTO POPULAR

É um relato oral e tradicional de contornos verossímeis e também ocorrendo dentro do maravilhoso e do sobrenatural. Pode mencionar fatos possíveis, como também referir-se a animais dotados de qualidades humanas e episódios com abstração histórico-geográfica. O conto é de importância capital como expressão da psicologia coletiva no quadro da literatura oral de um país. As suas diversas modalidades, os processos de transmissão, adaptação, narração, os auxílios da mímica, entonação, o nível intelectual do auditório, sua recepção, reação e projeção, determinam o valor supremo como um dos mais expressivos índices intelectuais populares. O conto ainda documenta a sobrevivência, o registro de usos, costumes e fórmulas jurídicas esquecidas no tempo. A moral de uma época distante continua imóvel no conto que ouvimos nos nossos dias.
Existem várias classificações dos contos populares. Uma das mais conhecidas é pelo método Aarne-Thompson, que os divide em três grandes grupos: Contos de animais, Estórias populares e Gracejos e anedotas. Preferimos, no entanto, adotar a classificação dada pelo folclorista Luís da Câmara Cascudo em seu Dicionário do folclore brasileiro, que é a seguinte:

*Contos de encantamento: Estórias de fadas e duende, caracterizadas pelo sobrenatural e maravilhoso. São os Contos da Carochinha, Chapeuzinho Vermelho, Joãozinho e Maria, A Bela Adormecida, Branca de Neve, o Pequeno Polegar, Gata Borralheira, etc.

*Contos de exemplo: São contos morais, sempre com ação doutrinária. Apresentam sempre casos edificantes. Ex.: O filho do pescador, A menina vaidosa, O amor-perfeito, etc.

*Contos de animais: São as fábulas, em que os animais são dados de qualidades, defeitos e sentimentos humanos. Ex.: O gavião e o urubu, A raposa e as uvas, O pulo do gato, etc.

*Contos religiosos: Caracterizam-se pela presença ou interferência divina. Não se localiza, como a lenda. Ex.: Jesus e os lavradores, Deus é bem bom, O chapéu do escrivão, etc.

*Contos etiológicos: Explicam a origem de um aspecto, forma, hábito, disposição de um animal, vegetal. Ex.: A maçarapeba ficou com a boca torta por ter zombado de Nossa Senhora; A festa no céu, que explica porque o casco do cágado é todo em pedaços; Os miosótis, que se tingiram com a cor dos olhos de Maria, Jesus e o tatu, etc.

*Contos acumulativos: Também denominados “lengalenga”, são contos nos quais os episódios são sucessivamente encadeados, com ações e gestos que se articulam em longa seriação. São os “contos de nunca mais acabar”. Eles têm característica de uma longa parlenda, contada e recontada para divertir as crianças. Um exemplo é o que tem o título de “Papai comprou um cabrito por cinco mil réis”. Começa assim: Um cabrito, um cabrito que meu pai comprou por duas moedas. Conta depois, que veio o gato e comeu o cabrito, que veio o cão e mordeu o gato; assim até terminar e então diz: “Veio aquele que é santo e matou o anjo da morte, que matou o magarefe, que matou o boi, que bebeu a água, que apagou o fogo, que queimou o pau, que bateu no cão, que mordeu o gato, que comeu o cabrito”. Neste estilo estão: A mosca na moça, O macaco e a espiga de trigo, Cadê o toicinho que estava aqui, etc.

*Contos de adivinhação: Apresentam um enigma sob a forma de estória, resultante do processo de associar e comparar as coisas pela percepção de semelhanças e diferenças.

*Anedotas ou popularmente “Piadas”: são contos que visam provocar jocosidade ou ridicularidade. São relatos sintéticos de uma aventura, cujas características principais se acham na sua comicidade ou inesperabilidade do desfecho. Ex.: Voluntários, O recruta, etc. Em geral a Anedota pode ser classificada como: a de salão (fina) e a que não é de salão (apimentada). Dela se serviu Cornélio Pires para valorizar o caboclo brasileiro.

*“Causos”: São episódios acontecidos com contadores de estórias enfeitadas pela fantasia, sobretudo as de caçadores e pescadores famosos pelas suas patranhas. Os tropeiros, os vaqueiros e os peões de fazenda são extraordinários contadores de “causos”, nos quais se misturam elementos míticos e lendários. Via de regra, são o personagem principal, outras vezes, porém, assistiram o episódio. Ex.: O pescador que perdeu o relógio e o encontrou, anos depois, funcionando perfeitamente num galho de uma árvore.

Folclore Brasileiro / Nilza B. Megale- Petrópolis: Editora Vozes, 1999.




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